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Jornalista e músico por amor a ambos os ofícios, mantenho esse espaço sem fins lucrativos para divulgar a cena local, seja com a participação de banda locais, seja com a bandas nacionais.

segunda-feira, 29 de março de 2010

"Você não vale nada mas eu gosto de você" agora escuta!!!

imagem: site globo.com


Ontem o Domingão do Faustão, programa da rede Globo de Televisão, fez a entrega do premio melhores do ano, uma premiação onde os funcionários das organizações Globo são eleitos os melhores nas suas categorias. Nessa premiação há, pelo menos as que eu assisti, quatro categorias destinadas a música.

Pra começar estavam disputando na mesma categoria de melhor cantor, o Pe. Fábio de Melo e o cantor popular Seu Jorge. Não que o trabalho do padre não seja honesto nem mal produzido, muito pelo contrário é um trabalho com uma qualidade altíssima, mas, ao meu ver, não há com que se comparar a qualidade do padre a do Seu Jorge. O padre cheio de limitações vocais, faz um trabalho, volto a repetir bom trabalho, mais pastoral. Onde sua preocupação é atingir, e se for o caso, converter o máximo de fieis possíveis com suas belas músicas, de composições complexas e de muito bom gosto, de autoria do próprio padre. Já o Seu Jorge, é um compositor de qualidade comparável a do padre, porém é mais cantor. Com técnica vocal suficiente para fazer seu vozeirão se suave e ser trovejante. Assim foi feita a primeira injustiça com a música nacional.

A Segunda foi a escolha do melhor grupo, banda ou dupla!?!?!? Afinal de contas, que tipo de premio é esse? Não há critério justo para comparar o trabalho de um grupo de pagode, uma banda de pop-rock e uma dupla sertaneja elegendo o melhor trabalho, cada um tem suas individualidades e características completamente diferentes.

A terceira, não necessariamente nessa mesma ordem, e última que eu pretendo comentar, elegeu a melhor música de 2010. Entre as concorrentes estavam Shimbalaiê” de Maria Gadú, “Borboletas” da dupla Victor e Leo e a vencedora “Você não vale nada” um forró brega da banda Calcinha Preta. Isentando a preferência deste que escreve, a vencedora é uma música que em nada acrescenta a cultura popular, pelo contrário, uma letra fútil que retrata a vida e o vai e vem de um casal infiel. Não bastando isso, o apresentador Fausto Silva enfatiza que o “sucesso” é o resultado do trabalho de qualidade da banda refletindo a escolha do público.

Pois bem, como jornalista a análise que faço é a seguinte: a máquina da industria cultural dá ao povo o que o povo quer. Isso que dizer, caro leitor, que a industria empurra de goela a baixo o acúmulo de inutilidade para evitar que o povo pense. Na Roma antiga essa era a política do Pão e Circo, onde o império romano dava entretenimento e comida a um povo explorado, para evitar que o povo se rebelasse.

Por que os grandes artistas de verdade não tocam mais na rádio? Desde a década de 80 os artistas que fizeram o povo pensar e se rebelar contra a ditadura militar, que assolou esse país por 20 anos, foram sendo limados do cenário cultural. Para cada artista limado, cinco ou seis produtos de uma cultura inútil, foram tornando a cena musical do país em uma subcultura de um produto ruim. São milhares de bandas com o mesmo formato produzindo um super hit por semana para grudar na sua cabeça até a “grande banda” cair no esquecimento popular. São os cinco minutos de fama, e só!

Os verdadeiros artistas, ficam no esquecimento e fazendo um produto considerado de alto teor intelectual, o que limita e muito sua veiculação, tornando-o não comercial. E o povo, que infelizmente não tem nada a ver com isso, escolhe apenas o que já conhece, pois desde que o mundo é mundo, o desconhecido é coisa do mal, como foi com os adoradores de outros deuses, da terra, das águas, dos astros, das ciências, do ocultismo e tantos outros. E a industria só repete incessantemente: “Você não vale nada mas eu gosto de você!”

A minha esperança é que com a democratização dos meios de comunicação, promovida pela internet, artistas que produzem seus trabalhos tenham onde mostrar sua produção, para que sua música seja conhecida de muitos e deixe de ser coisa de intelectual. Afinal de contas, onde já se viu coisa que diverte ser considerada coisa de intelectual? Acorda Brasil.

Um comentário:

Violeiro Andarilho disse...

Ah, meu irmãozinho, que saudade dos tempos que as rádios tocavam Chico Buarque, Caetano Veloso, Gonzagão... Bons tempos que parecem não ter nenhuma chance de voltar, a não ser na vontade de uns poucos saudosistas apreciadores de boa música, que nem nós.
Grande abraço!